Eu gosto dos adolescentes. Mesmo quando reconheço que é difícil e é chato ser adolescente! Em primeiro lugar, porque tudo o que é importante e precioso leva tempo e se costura com imensos erros. E aquilo que lhes exigem parece não contar com nada disso. Depois, porque ligar as relações sociais, as relações amorosas, a família, o corpo, a cabeça e o estudo é muito confuso, a ponto de não se saber como se pode gerir tudo isso sem que a vida toda fique em “hora de ponta”. A seguir, porque todos lhes exigem este mundo e o outro enquanto, aos 12, a puberdade os desformata e, aos 14, a sexualidade, ao “bater na cabeça”, só os complica.
É chato (de verdade) ser adolescente! Porque todos lhes perguntam como vai a escola quando eles baralham piropos e galanteios e batalham, constantemente, com o coração, quando se trata de seduzir, de flirtar e de namoriscar. Porque ninguém lhes diz que namorar é muito mais importante do que estudar. Porque – apesar de as paixões terem, por vezes, dez minutos – primeiro está, para sempre, o amor (e o desejo de se ser feliz todos os dias!) e só depois vem o trabalho e a carreira (embora todos lhes garantam, pelos exemplos que lhes dão, que o mundo anda ao contrário).
E é chato, ainda, porque tem de se aturar os pais aos lamentos, mais ou menos em surdina, contra a dificuldade da adolescência dos filhos, quando não há tarefa que nela mais doa do que perder os pais: perder o seu lado que, bem esgalhado (e em bicos dos pés), parecia levá‑los quase a tocar as nuvens, e que parecia nunca se cansar, nunca se desapaixonar, nunca ceder na honestidade e na coerência
(mas que se vai esboroando, aos bocadinhos); perder o “dedo que adivinha” com que foram fazendo um bluff atrás do outro mas que, num abrir e fechar de olhos, passem a desconhecer os filhos, não ousem mais adivinhá‑los, e cedam aos slogans dos outros, aos medos dos outros e à adolescência que não tiveram; e perder o seu sentido de justiça – e a autoridade, que vem logo a seguir – parecendo (pais e filhos) ouriços assustados que tentam abraçar‑se.
(mas que se vai esboroando, aos bocadinhos); perder o “dedo que adivinha” com que foram fazendo um bluff atrás do outro mas que, num abrir e fechar de olhos, passem a desconhecer os filhos, não ousem mais adivinhá‑los, e cedam aos slogans dos outros, aos medos dos outros e à adolescência que não tiveram; e perder o seu sentido de justiça – e a autoridade, que vem logo a seguir – parecendo (pais e filhos) ouriços assustados que tentam abraçar‑se.