Encontramo‑lo na massa, nos bolos, nas sopas, nos molhos, no pão – designadamente no miolo –, comemo‑lo desde sempre, por via do trigo e do centeio, e eis que, subitamente, parece que é veneno! Anátema sobre o glúten! Estará a infestar a nossa alimentação e será o causador de todos os nossos males: enxaquecas, depressões, náuseas, insónias, artrose, asma, irritação de pele e até mesmo esclerose e esquizofrenia, deixo de lado umas ainda piores.
Desde a publicação do livro do cardiologista americano William Davis, no qual ele dá a garantia de que os seus pacientes tinham saúde para dar e vender depois de se terem livrado do glúten, que a onda nunca mais parou de ganhar terreno. Já li aqui e ali que, do outro lado do Atlântico, um terço da população estaria a tentar banir o glúten da sua alimentação (confesso que estes números me parecem difíceis de verificar, mas a tendência é inegável), e constato que, deste lado do Atlântico, o impulso vai no mesmo sentido.
Evolução justificada ou simples histeria?
Eu desconfio das modas. Muitas vezes, servem para ocultar operações comerciais sumarentas. Mas também não sou surdo e consigo ouvir os testemunhos de pessoas que afirmam que a adoção do regime gluten‑free transformou o seu dia a dia para melhor.
No entanto, como sou médico, tenho tendência para remeter para as demonstrações científicas. Ora, até à data, nenhum estudo (e salto a maior parte deles, pois quase todos se contradizem) permitiu concluir que o glúten seja responsável por todas essas maleitas.
Das duas uma: ou se é intolerante ao glúten ou não.
Para o primeiro caso (que diz respeito a um por cento da população portuguesa) há uma designação, a doença celíaca, e é do foro médico. É preciso ir a uma consulta. Os sintomas são identificados e o tratamento implica uma dieta sem glúten que deve ser seguida à risca.
No segundo caso, qualquer inclinação para o gluten‑free releva, de um ponto de vista estritamente médico, de uma moda, de autossugestão, ou de uma opção cultural, que é, posso garantir, eminentemente respeitável. E constrangedora: passa a ser muito mais difícil aceitar um convite para jantar, ir às compras ou ao restaurante. Mesmo que o comércio se organize para dar resposta: florescem diariamente mercearias, sites na internet, restaurantes e espaços dedicados nos supermercados. Nem é preciso mencionar que os produtos aí expostos são mais caros do que os produtos clássicos...
Evolução justificada ou simples histeria?
Eu desconfio das modas. Muitas vezes, servem para ocultar operações comerciais sumarentas. Mas também não sou surdo e consigo ouvir os testemunhos de pessoas que afirmam que a adoção do regime gluten‑free transformou o seu dia a dia para melhor.
No entanto, como sou médico, tenho tendência para remeter para as demonstrações científicas. Ora, até à data, nenhum estudo (e salto a maior parte deles, pois quase todos se contradizem) permitiu concluir que o glúten seja responsável por todas essas maleitas.
Das duas uma: ou se é intolerante ao glúten ou não.
Para o primeiro caso (que diz respeito a um por cento da população portuguesa) há uma designação, a doença celíaca, e é do foro médico. É preciso ir a uma consulta. Os sintomas são identificados e o tratamento implica uma dieta sem glúten que deve ser seguida à risca.
No segundo caso, qualquer inclinação para o gluten‑free releva, de um ponto de vista estritamente médico, de uma moda, de autossugestão, ou de uma opção cultural, que é, posso garantir, eminentemente respeitável. E constrangedora: passa a ser muito mais difícil aceitar um convite para jantar, ir às compras ou ao restaurante. Mesmo que o comércio se organize para dar resposta: florescem diariamente mercearias, sites na internet, restaurantes e espaços dedicados nos supermercados. Nem é preciso mencionar que os produtos aí expostos são mais caros do que os produtos clássicos...