Erro n.o 20 - Dizer a Verdade, Toda a Verdade e Só a Verdade | Dra. Lois P. Frankel

O que levará as mulheres, muito mais do que os homens, a ser incapazes de resistir ao impulso de despejar toda a verdade a seu respeito, ainda que ela as possa desacreditar ou fazer mossa? Num estudo recente, pediu-se a um conjunto de homens e de mulheres que se descrevessem. Os homens, independentemente do aspecto, usaram termos concretos e positivos (ou, no mínimo, neutros).



“Meço 1,83 m, tenho cabelo castanho, peso 88 kg e uso bigode”, disse um dos inquiridos, um homem já maduro e a atirar para o corpulento.
Pois. E eu sou a Julia Roberts. Já as mulheres usaram expressões menos abonatórias, do estilo: “Estou a ficar com cabelos brancos, preciso de perder uns quilos, não tenho muito mau aspecto…”
O mesmo se passa quando se pedem informações a uma mulher acerca de um projecto que deu para o torto. Ela responsabilizar-se-á por as coisas não terem corrido bem e apontará tudo aquilo que deveria ter feito e não fez. Como procedem os homens numa situação idêntica? Mais uma vez, são objectivos, não deixando nenhuma ponta por onde lhes possam pegar. Um homem acusado de ser o responsável por uma má metodologia defendeu -se, dizendo: “O problema não foi a metodologia, mas o facto de ela não reflectir os parâmetros do processo.” E – pergunto eu – quem foi que concebeu a metodologia?
Anne Mulcahy, presidente e directora-geral da Xerox, descobriu à sua custa que contar a verdade nua e crua pode acarretar problemas. Ao iniciar funções, durante um encontro de investidores, deu a saber
ao mundo inteiro que a empresa tinha “um modelo negocial insustentável”.
No dia seguinte, as acções da Xerox na bolsa perdiam 26 por cento do seu valor. Anne Mulcahy pensou que, uma vez que não era segredo para ninguém que a firma atravessava dificuldades, seria óbvio que o modelo empresarial não era bom. “Olhando para trás”, admitiu ela mais tarde, “eu https://www.leyaonline.com/pt/livros/ciencias-sociais-e-humanas/gestao/as-boas-raparigas-nao-sobem-na-vida/deveria ter formulado o que disse de forma diferente, por exemplo: ‘A empresa reconhece a necessidade de introduzir alterações no seu modelo empresarial.’” E, embora continue a preconizar a franqueza, não deixa de alertar para certos “pormenores que, usados fora de contexto, desvirtuam o teor do que se diz”.
Ao que tudo indica, Anne Mulcahy ainda não aprendera a arte de “dar a volta” a uma situação. Dizer a verdade não exige que mostremos o ângulo que menos nos favorece. Requer, isso sim, uma descrição honesta e objectiva dos factos, sem sentimentos de culpa nem autoflagelações.