O melhor do mundo não são as crianças. Mas todos aqueles (pais, avós e professores, por exemplo) que – pela forma como as amam, as cuidam e as protegem – as deixam ter, unicamente, talento para serem crianças. Com direito a ser enfadonhas e medricas. E a ser rabugentas, desatentas e trapalhonas. E a lamuriar-se, mesmo que não tenham motivos consideráveis para tanto. E a seringar a paciência dos adultos, sempre que os sintam distraídos. E a ser glutonas, logo que eles as queiram compenetradas e em sossego. E a ter a vista na ponta dos dedos e a perguntar “porquê?”, a torto e a direito, sobretudo quando as querem atiladas.
O melhor do mundo são todas as pessoas crescidas que não elogiam as crianças de forma almofadada, como se o seu coração não aguentasse senão algodão-doce. E aquelas que lhes dão o direito a fazer birras. Das estridentes, de preferência. E a chorar com alma. Por motivos nenhuns e sem que saibam porquê, se for preciso. E aquelas que as autorizam a acreditar em bruxas, em duendes, no Capitão Gancho ou no Papão. E a considerar que eles vagueiam pelo quarto, sempre que os pais são insossos nas histórias que lhes contam. E aquelas, claro, que as deixam descobrir que uma família se faz com todos os que moram, de surpresa, no meio de nós.
O melhor do mundo não são as crianças. Mas todas as pessoas – sejam
pais, avós ou professores – que as ensinam que o melhor de tudo é não
estar sempre e obrigatoriamente entre os melhores. Ou ser “o melhor do
mundo”. Mas, antes, ser o melhor do mundo para alguém.