Não tem graça nenhuma ter um irmão | Eduardo Sá

Não tem graça nenhuma ter um irmão! E sentir a mãe mais “metida consigo”, o pai mais atento e mais atrapalhado, e haver sempre alguém que acabe a sugerir: “Então, não dás os bons-dias à Luisinha?...” (Enquanto essa “criatura” nem com um murmúrio nos responde), e nos forcem a esborrachar o nariz sobre a barriga da mãe para lhe pespegar uma beijoca, fingindo que é fixe ter uma irmã.

Eduardo Sá
E não tem graça toda a gente – pais, avós e amigos! – achar imensíssima piada aos fatos d’ “a bebé” enquanto ninguém repara, nem por um bocadinho, nas jardineiras que eu acabei de estrear.
E menos graça tem que, para compensar a forma enfadonha e engonhada como me passaram a desconsiderar, que alguém pegue nos gatafunhos com que me vingo nos marcadores deste abandono a que todos me condenam e, em vez de perceberem o meu nervoso miudinho e a “raiva de estimação” que cresce em mim, acabem no já clássico: “Ai que bonito!”, que mais parece um insulto, como se eu não tivesse uma pequena ideia sobre as coisas sem jeito que, quando quero, eu desenho.

https://www.leyaonline.com/pt/livros/familia/querida-mae/E não tem graça que, enquanto se apaparica o “bercinho” d’“a bebé”, a “alcofinha” d’“a bebé” e a “roupinha” d’“a bebé”, haja sempre alguém que me diga, como se eu fosse o “único totalista”: “E quem é que vai ter uma escolinha nova, quem é?”
E, quando eu, quase a vomitar, só de me imaginar num “castigo” desses, vou para vociferar: “Oh, faz favor, e se fosse incomodar o seu querido filhinho e me deixasse em paz?!...”, logo remata: “...Com muitos coleguinhas!” Ora, se isso é tão bom assim, porque é que não se empacota “a tal Luisinha” e a enviamos para lá?