Nada é tão linear como parece | Eduardo Sá

Nada, na verdade, é tão linear como parece. Nem as crianças são pequenas, nem os pais são crescidos como aparentam. Elas nem sempre crescem e eles voltam, por dentro, muitas vezes para trás. Com o tempo, há quem se torne jovem e quem, entre as oportunidades que tem para crescer, vacile e envelheça. Com o tempo, há quem se torne génio e sábio, arrebatado, amável, terno, buliçoso e quem azede adoçando a ira de euforia. Com o tempo, há quem, de cada vez que muda, queira começar do zero, deixando de si quase tudo para trás; e há quem recrie tudo o que sabe, nunca partindo sem levar aquilo que os outros teimam em deixar.
Para quem envelhece, nada é eterno; para quem se recria, tudo é para sempre.
Para quem envelhece, a vida é um reconhecimento das falhas e das omissões dos outros; para quem se recria, tudo se resume a perceber que errar é aprender.
Quem envelhece morre todos os dias um bocadinho; quem se recria torna-se jovem sempre que aprende.


Na verdade, nada é tão linear como parece e é por isso que todos aprendemos a desenhar quando nos https://www.leyaonline.com/pt/livros/familia/hoje-nao-vou-a-escola/vemos ao espelho. As crianças aprendem os movimentos da mesma forma que são acolhidas com movimento. Ainda assim, há relação. A ironia da vida é que até os neurónios se educam. Portanto, nessas circunstâncias, é bom que tenhamos a noção de que há bons e maus pais e de que os maus pais não são aqueles que com intenção magoam – são aqueles que, muitas vezes, vivem atropelados por todas as histórias da sua infância sem darem por isso. Tenho para mim que é muito importante que possamos cuidar devidamente da infância sem nunca perdermos de vista que cada filho é um entroncamento de muitos caminhos.