Já deverá ter notado que o conceito de «autoestima» está um pouco por toda a parte, tanto nas revistas (nomeadamente femininas) como nas conversas entre amigos(as). Remete para a consideração global que tem de si próprio, seja ela negativa ou positiva...
Em geral, as bases para essa autoestima estão instaladas na idade adulta. Mesmo que as vicissitudes da vida, sejam elas profissionais, familiares ou sentimentais, possam fazer evoluir essa perceção. Muita coisa se joga na infância. Daí a responsabilidade dos pais...
O discurso que tece acerca das capacidades do seu filho pode encorajá‑lo ou, pelo contrário, desmotivá‑lo. É importante que conheça bem as suas forças e fraquezas de modo a ajudá‑lo a tomar consciência delas. E se é verdade que é importante dar‑lhe ambição, não é menos importante afastá‑lo de uma pressão desnecessária proveniente de objetivos irrealizáveis. Não é assim tão simples... Se puser o cursor demasiado acima ou demasiado abaixo poderá ter sempre consequências.
Uma má autoestima conduz inevitavelmente a um mal‑estar e complica as relações com os outros. Frustração permanente, culpabilização em excesso, desvalorização sistemática, impulsividade e timidez são perturbações do comportamento que põe em perigo a felicidade daqueles cuja autoestima é residual, hipotecando assim o seu desabrochar, seja ele pessoal ou profissional. E como um problema nunca vem só, não é raro resultar numa depressão ou em comportamentos aditivos (droga, álcool), senão mesmo uma relação complicada com a alimentação (bulimia, anorexia).
Em oposição, um excesso de autoestima resulta em comportamentos altivos (ou percebidos como tal pelos outros), potencialmente perigosos, uma vez que a pessoa se considera ao abrigo do risco.
Daí a necessidade de pensar muito bem antes de dar uma resposta a uma criança... E, claro, tudo resulta em função do seu método educativo. Seja ele permissivo, autoritário ou liberal, influenciará fatalmente o julgamento que a criança terá acerca de si própria, mesmo que, quando venha a voar pelas suas próprias asas, tenha uma visão mais autónoma e menos influenciada pelos outros.
A criança é uma promessa. E os pais deverão fazer de modo a que seja cumprida, graças ao incremento de alguns princípios que lhe garantam uma «boa autoestima», isto é, uma autoestima «suficiente», nem demasiado alta, nem demasiado baixa.
Faça com que ela compreenda que o desrespeito pelas regras educativas, que terão sido previamente enunciadas, e de forma clara, só poderá ter consequências, e o não cumprimento dessas regras deve ser vigiado por si. Sempre que possível, esforce‑se por dar uma possibilidade de escolha ao seu filho. Se sonha fazer dele guarda‑redes, de nada serve inscrevê‑lo no clube de futebol da esquina se o sonho dele é ser tenista. Nem obrigá‑lo a tocar piano se passa o tempo a querer desenhar.
Constrangê‑lo é atentar contra a sua confiança, logo, contra a sua autonomia futura. Dar‑lhe uma escolha é dar‑lhe confiança. Por outro lado, importa que não seja cerceado na expressão das suas emoções ou das suas opiniões e, qualquer que seja a sua escolha, que esteja ao lado dele, para o incentivar e ajudar a atingir os seus objetivos, utilizando, para tal, todos os meios intelectuais e materiais que estiverem ao seu alcance, dentro do razoável. Só a experiência, pela tentativa e erro, lhe permitirá conhecer a realidade, com ou sem sucesso, mas com a certeza de ter feito uma aprendizagem acerca de si próprio, conhecendo melhor os seus limites e capacidades. Só assim se conhecerá melhor. Só assim se aceitará melhor. Só assim ganhará a confiança essencial que o incitará a dirigir‑se ao outro, a encontrar o seu lugar, o lugar certo no seio de um grupo ou de uma coletividade.
