As mulheres poderão não deter o monopólio da ingenuidade, mas contribuem com uma boa quota-parte quando se trata de levar a palavra dos outros à letra. A dinâmica subjacente não deixa de ser interessante.
Muitas vezes não nos preocupamos em averiguar se o que nos dizem é verdade por não querermos entrar em conflito com ninguém, ou por insistirmos em ver apenas o seu lado bom. Ao concentrarmo-nos na questão em si, acabamos por não nos aperceber de certos comportamentos óbvios que se passam à nossa volta.
A ingenuidade da Lisa trouxe-lhe sérios aborrecimentos. Directora de desenvolvimento de uma conhecida instituição sem fins lucrativos, o seu departamento primava pelo espírito de equipa e pelo clima de camaradagem. Durante os anos em que esteve ao comando, as metas estabelecidas para as campanhas de recolha de fundos foram sempre ultrapassadas – tudo isto até ao momento em que contratou o Adam, filho de um dos membros do conselho de administração.
Os colegas tinham -na alertado para que a contratação do rapaz não era uma boa opção, mas a Lisa estava convencida de que, se fixasse um conjunto de regras básicas e mantivesse abertos os canais de comunicação com ele, tudo correria sobre rodas. Passados poucos meses, a equipa começou a dar sinais de desmoralização. Os membros deixaram de atingir os objectivos a que se propunham. Alguns chegaram a confidenciar à Lisa que o Adam andava a dizer mal dela pelas costas e a contar mentiras a seu respeito.
O chefe chamou-a várias vezes, interpelando-a sobre a agitação que tomara conta do grupo. Pela primeira vez em toda a sua carreira a Lisa via a sua liderança posta em causa.
Decidiu então discutir o assunto abertamente com o Adam, que negou ter feito o que quer que fosse para minar a autoridade dela.
Convencida da sua boa-fé, a Lisa reiterou as expectativas que depositava nele – mal sabendo que estava a contribuir para que as coisas piorassem. Preocupados com a feição que os acontecimentos estavam a tomar, certos membros do conselho de administração interpelaram o presidente da organização acerca dos problemas que lhes tinham chegado aos ouvidos. A Lisa acabou por deixar a instituição e ir ocupar um cargo melhor, mas a verdade é que nunca encarara essa hipótese antes da chegada do Adam.
Quando vemos nos outros uma certa ingenuidade, costumamos encará-la como uma lufada de ar fresco. Por vezes, certos jovens em início de carreira tiram partido disso fazendo com os outros queiram ser seus mentores e apontar -lhes as regras a cumprir no caminho que terão de percorrer. Contudo, quando essa ingenuidade se manifesta num profissional já maduro, pode ser usada para o desacreditar.
Ao agirem ingenuamente, as mulheres estão a dar mostras da incapacidade para fazer a leitura adequada de uma situação e a que não sabem retirar lições da sua experiência.