Mal chega o verão, começam a acumular‑se na nossa pele pontos avermelhados que provocam comichão. São as melgas que não nos deixam em paz! Mas por que razão há uns que não param de ser picados, enquanto outros parecem ser poupados? Cerca de 20 por cento das pessoas são verdadeiros ímanes para as melgas.
No entanto, só as fêmeas das melgas é que querem o nosso sangue. Precisam das proteínas e do ferro que este contém para conseguirem pôr os seus ovos. Por si, as melgas fêmea até sobreviveriam perfeitamente apenas à base de néctar e de sucos vegetais adocicados; esta opção alimentar fora do regime vegetariano, com recurso a sangue humano ou animal, resulta das necessidades da sua prole. Para tal, a progenitora perfura de modo certeiro os capilares existentes na derme tanto dos seres humanos quanto dos animais. A cada picada rouba à sua vítima entre 0,001 e 0,01 mililitros de sangue.
A saliva das melgas é um elaborado cocktail de anestésicos (para poderem picar sem delas nos darmos conta), anticoagulantes (para que o sangue não seque quando atravessa a tromba da melga, entupindo‑a), substâncias vasodilatadoras (que garantem um fluxo maior de sangue do hospedeiro), bem como enzimas e proteínas, que ajudam a espalhar esse cocktail nos tecidos, possuindo além disso um efeito antibacteriano.
Em reação às substâncias estranhas injetadas para o corpo na saliva da melga, a histamina, a quimiocina responsável pelo prurido, é libertada pelos mastócitos que existem na derme. Apesar das substâncias com efeito antibacteriano presentes na saliva, uma picada de melga que seja coçada poderá sofrer uma infeção por bactérias, já que ao coçar a barreira cutânea é comprometida.
De resto, as melgas possuem gostos bem definidos no que diz respeito às vítimas cujo sangue irão extrair. Deverá ser uma pessoa com um odor marcante. O suor humano é decomposto por bactérias que vivem na pele, daí resultando perfis odoríficos específicos para cada indivíduo. O ácido lático, o amoníaco, o ácido úrico e os ácidos gordos, misturados em determinadas proporções, despertam a curiosidade das melgas. Para os mosquitos nada há de mais interessante do que o cheiro dos pés. São atraídos pelo chulé, resultante da ação de numerosas e variadas bactérias na pele dessa parte do corpo. É por isso que na Tanzânia se tenta atrair os mosquitos da malária para fora das casas com meias malcheirosas que são penduradas diante das portas e das janelas. Cientistas conhecedores desse tipo de odor trabalham efetivamente em armadilhas para mosquitos com o aroma de pés malcheirosos com vista a combater a propagação da malária.
O odor do ser humano é formado por diversos componentes. Não se sabe ao certo quais são os que as melgas acham mais atrativos, mas o certo é que, a par do cheiro a suor, os genes também desempenham um papel. Também o CO2 que expiramos, sobretudo ao praticar desporto, é considerado particularmente interessante pelas melgas, sendo nós capazes de as atrair mesmo que estejam a 50 metros de distância.
Perfumes, amaciadores para a roupa, loções corporais perfumadas e géis de duche também exercem atração sobre os mosquitos, que se interessam ainda por pessoas com o grupo sanguíneo O. São elas as mais atacadas e picadas pelas melgas; terão porventura um sangue «mais docinho», como popularmente se costuma dizer. As pessoas com o grupo sanguíneo A, pelo contrário, parecem ser claramente pouco atrativas para os insetos. Ninguém sabe explicar ao certo por que razão isso é assim. A verdade é que a maioria das pessoas deverá disponibilizar na superfície da sua pele um sinal químico que revela o seu grupo sanguíneo a estes sugadores alados.
A «refeição» ideal para uma melga seria pois um desportista ofegante de sangue tipo O, que cheirasse a after‑shave, que transpirasse profusamente e cheirasse mal dos pés. No mundo ideal das melgas tal só deveria ser suplantado por uma grávida, também ela desportista e com atributos semelhantes, uma vez que apresentaria uma temperatura corporal mais elevada e libertaria uma maior quantidade de dióxido de carbono ao expirar.
Que pode fazer para que as melgas não se banqueteiem consigo?
A dietiltoluamida (DEET) e a icaridina são duas substâncias químicas bastante eficazes que repelem melgas (e também carraças) até um máximo de seis horas. A dietiltoluamida é, no entanto, irritante para as mucosas e para o sistema nervoso, pelo que não é recomendável o seu uso por bebés e por grávidas. A icaridina é menos agressiva, mas ainda assim continua a ser tudo menos «biológica». Os produtos biologicamente mais recomendáveis não constituem, no entanto, uma verdadeira alternativa, pois o seu efeito é muito mais fraco e menos eficaz que as substâncias sintéticas. Evaporam bastante depressa e têm de voltar a ser aplicados passadas duas horas. O óleo de coco e óleos essenciais de plantas, tais como o óleo de citronela, o óleo de melaleuca, extratos de lavanda, eucalipto, cravo, gerânio, cedro, manjericão, alho e hortelã‑pimenta, todos possuem odores intensos, também
para o nariz humano, mas não são tóxicos. Porém, quem achar que esses produtos «biológicos» são inócuos, engana‑se. Algumas destas substâncias odoríferas naturais são capazes de desencadear fortes alergias de contacto. Verdadeiramente inofensiva para o corpo só mesmo a proteção oferecida pelo vestuário comprido e pelas redes mosquiteiras.